sexta-feira, 25 de abril de 2025

 25 de abril 2025

Há-de ser a Liberdade


Ade. Sem h. Há-de ser a Liberdade. Pensaram eles. E pensaram bem.

Até onde a liberdade chegar. Escapava-se da prisão das palavras e saía fluída, solta, com cabelos ao vento, como um passeio de moto, esvoaçando as palavras pássaros entre vales e rios. 

Devorá-la. Havia que devorá-la com medo de que se perdesse e tudo voltasse atrás, ao tempo dos beijos escondidos, das saias até ao joelho, das mantilhas sobre os ombros. Das memórias antigas, dos puxões de cabelos, dos maridos ébrios, do sexo não consentido, da porrada, e do silêncio. Do calar o sofrimento. 

E depois o encontro. O encontro puro de irmãos a querer a mesma coisa. A coisa tão simples. Apenas ser igual a ti. Sem máscaras. Sem restrições. Sem amordaçar as palavras na boca e no carvão do lápis onde flui o mundo. De ti. Só de ti para ti e de ti para mim. Fluidez essa na liberdade de poder dizer o que sentires.

Virgínia de Sá


(em escrita criativa com Joaquim Semeano - exercício com as três ultimas letras da palavra liberdade)



 Tenho um Primo Convexo 

(25 de abril de 2025 em homenagem a José Afonso)


Quantos primos convexos, em redes de suor, preguiçosos e barrigudos adormecendo a liberdade esquecida, enquanto a terra treme e o primo que não é irmão, de nada se apercebe e fica balançando no ar.  Do alto da sua rede pede mais uma cerveja, enquanto o sonho vai, o homem só deseja. Enquanto a tarde cai, o homem boceja. Tenho um primo convexo que pouco ou nada almeja. Por entre as palmeiras, espera que o tempo seja. O meu primo convexo que pouco ou nada almeja, e tem sempre ao seu lado uma grade de cerveja. Passam por ele os dias, risos, futebóis, passam a romarias, pratos de caracóis, cresce-lhe uma alegria na parte frontal e a rede balança, com ele horizontal!

Texto escrito por Virgínia de Sá, em sessão de escrita criativa com Joaquim Semeano. Sugestão de exercício, Joaquim Semeano. Escolha da canção, Virgínia de Sá.