quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Eu seja cão!






Eu seja cão!


Felicidade? Não temos!
Agora compra-se tudo feito. Nos hipermercados! Não sabia?
Verdade? Liberdade? Fraternidade?
O que é?
Não, não conheço.

Agora constroem-se muros, afundam-se barcos, ensaiam-se bombas.
Sopa? No supermercado tal. Já não há aquela como a que fazia a avó.
Ou então compra-se em pó, no supermercado Tal.
Como manda o tal sistema a quem chamam capital.

Eu seja cão!

Um dia vai descobrir que a correr passou a vida.
Tão comprida lhe parecia!
Afinal quase no fim
Um dia vai perguntar-lhe
Quantas vezes lhe sorriu
- Vida, sorriste quanto para mim?

E você se não corre voa. Voa para a perfeição.
Um dia sobe tão alto que há-de rebentar no chão,
quando vir que o tal sistema só o quer enquanto é cão,
cão de fila, cão de lata, cão de loiça,
o que não fala, o que não morde, o que não late,
mas cão, cão. Sempre cão! 

Virgínia de Sá
19/09/2019