quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O Cachimbo

 





O cachimbo


Flores. 

O cheiro de flores antecedia a chegada dele.

O cheiro e a gargalhada.


Depois as pantufas. O velho sentado no sofá. 

Os olhos perdidos no vazio da parede.

A máquina fotográfica com que captou aquela realidade infeliz.

Um velho. 

Com o seu cachimbo apagado, sem já ter consciência de porque não o acendia.

Estilhaços

 





Escrita criativa

Exercícios de imaginação

Estilhaços


Ela trazia o café numa bandeja redonda e brilhante, com passos leves de amansar as iras e os sonhos. Porque também é preciso amansar os sonhos. Não voem eles demasiado alto e saltem pela janela dos olhos. Foi então que uma bola saltou lá em baixo, no pátio, e fez plom, plom, plom. A velha deixou cair a bandeja, da qual caiu a chávena que se desfez em pedaços. Às vezes as velhas estão trémulas. Não se sabe porquê, mas foi então que tudo parou. O casamento desfez-se em estilhaços cintilantes.

 






Escrita criativa

Exercícios de imaginação

Azul


Entre as agruras da vida, havia o azul dos teus olhos. 

Os teus olhos claros e límpidos de menino a refletir a luz.

Pareciam querer sempre dizer-me alguma coisa. 

E por vezes lá de dentro, espreitava uma maldadezinha, 

que não passava de alguma traquinice, algo matreiro... Sei lá. 

E eu pensava, o menino anjo desceu à terra para estar comigo,

mas tem lá dentro um diabito.