domingo, 29 de dezembro de 2019

Ou um tiro no ouvido






Ou um tiro no ouvido

 
E do novelo o medo,
E do passado o ido
E o que virá, será como um estampido,

Um tiro no ouvido,
ou um degredo...
E tudo se resume a um gato com um olho de vidro
E de repente nada faz sentido

E o ano novo nada tem de novo
É só mais um ano antigo.

sábado, 23 de novembro de 2019





(pão e bolos no lixo à porta de supermercados)

"E se alguém humildemente bate à porta, senta-se à mesa com a gente"


"Bem vindos ao país da "caridadezinha". Desde a sopa do Sidónio às lojas sociais, os nossos sucessivos governantes têm gostado muito de ver filas daqueles que caíram em desgraça a mendigar uma sopa ou uma camisola. 

Já o diz o fado "se alguém humildemente bate à porta, senta-se à mesa com a gente". Mas atenção, tem que ser humildemente! Ainda que o Banco lhe tenha roubado a casa que você já pagou três vezes, que inventem uma crise para lhe roubar os direitos adquiridos, que você fique sem trabalho porque o seu patrão fugiu com o dinheiro para um paraíso fiscal ou que venha a extrema-direita começar tumultos ou uma guerra. 

A mim, que até sou de esquerda, mas que também tento ser cristã, dá-me grande tristeza ver desperdiçar assim alimentos: os grandes supermercados que assim desperdiçam alimentos, mas que se recusam a vendê-los mais barato, deviam ser duramente penalizados. 

Ai se um dia os homens vissem os outros como irmãos e não como força de trabalho para outros enriquecerem... !"


quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Eu seja cão!






Eu seja cão!


Felicidade? Não temos!
Agora compra-se tudo feito. Nos hipermercados! Não sabia?
Verdade? Liberdade? Fraternidade?
O que é?
Não, não conheço.

Agora constroem-se muros, afundam-se barcos, ensaiam-se bombas.
Sopa? No supermercado tal. Já não há aquela como a que fazia a avó.
Ou então compra-se em pó, no supermercado Tal.
Como manda o tal sistema a quem chamam capital.

Eu seja cão!

Um dia vai descobrir que a correr passou a vida.
Tão comprida lhe parecia!
Afinal quase no fim
Um dia vai perguntar-lhe
Quantas vezes lhe sorriu
- Vida, sorriste quanto para mim?

E você se não corre voa. Voa para a perfeição.
Um dia sobe tão alto que há-de rebentar no chão,
quando vir que o tal sistema só o quer enquanto é cão,
cão de fila, cão de lata, cão de loiça,
o que não fala, o que não morde, o que não late,
mas cão, cão. Sempre cão! 

Virgínia de Sá
19/09/2019

quarta-feira, 8 de maio de 2019





A luta pela camisola amarela 

(ou a "A luta continua" - A direita alia-se à esquerda para derrubar o PS)

Se não fosse trágico, esta verdadeira comédia, teria a sua graça.

Numa cartada desesperada, a direita alia-se à esquerda e até defende - imagine-se - os trabalhadores. Aquela Senhora Doutora com cara de santa corre agora de punho erguido à frente de Sindicatos recentemente criados, mas como tal não é suficiente para derrubar a principal roldana da apelidada "Geringonça" é secundada pelos amigos e sempre aliados do PSD.

Mas isto será possível? A hipocrisia e a falta de vergonha chega a isto? Vale mesmo tudo na política! Normalmente gosto pouco de ouvir comentários antes de fazer uma primeira análise quando ouço noticias como esta para não ser influenciada, mas o facto era tão absurdo e fora da caixa que me perguntei se estaria a ouvir bem. De facto já tinha achado estranho que estes partidos apoiassem não só a greve dos enfermeiros - que durante anos tiveram as suas carreiras e salários congelados pelos mesmos partidos - e também que se juntassem ou criassem Sindicatos para apoiar todos os trabalhadores que agora estão a fazer reivindicações, mas ver a direita abanar bandeiras de punho erguido com o PCP e o Bloco de Esquerda é coisa que não esperava ver aos sessenta anos! 

Tenho uma prima do CDS que me disse: Acabou-se! Nunca mais! A mim não me apanham mais votos até morrer! Um amigo que era PSD disse-me: Querem todos o mesmo, são todos iguais! Estes acabam de perder um voto para o PS! 

De facto o PS parece ter saído bem nesta foto de família. Juro que me saiu esta e não estava a ser irónica, mesmo porque me parece normal que quem está a governar seja o que for, autarquias etc, se rodeie de pessoas em quem confie, pelo que esta da família, desde que não sejam atingidos determinados lugares por pessoas pouco capacitadas para os mesmos, ainda é do mal o menos... 

Pior é mentir, enganar, vilipendiar quem em si confiou, vender-se a si mesmo e ao seu país para estar na mó de cima de quem oprime, mente e vende descaradamente a gregos e troianos, leia-se chineses e americanos ou admiro/americanos como os que dirigem atualmente o Brasil. 

Quanto ao PCP e Bloco de Esquerda, nada de novo, continuam a defender o que sempre defenderam, mas que gostava de os ver a governar o país gostava e também gostava de ver se diriam ámen a todas as reivindicações das classes trabalhadoras, ainda que o dinheiro chegasse para tudo ...


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Mulher, capitão, soldado, peão




Mulher, capitão, soldado, peão!


Entre nenúfares, emergiu.
Trazia lodo na boca, O corpo repartiu.

Nas ruas de Lisboa, “Pés Pequenos”, caminhava
Cabelo ao vento,
No céu, cavalos desenhava
Prenhe de sonhos, no corpo gerou vida.

Todos os dias LEU.
Cada personagem, tornou-o seu.
Índio, soldado, governanta, capitão.
Amante, feliz, sargento, peão.

No fogão ferve a panela.
Batata, cenoura, nabo, cebola, feijão.
… e a chouriça, que bem cheirava!

Já está cozido. A sopa já se passava.
Agora na tábua corta a hortaliça.
Talvez um dia… príncipes, sultões…
cada vez mais alto, voam dragões.

Na mesa, bem alinhados, como se aprendeu em casa.
Prato! Garfo! Faca!
Direita! Copo! Esquerda! Guardanapo!
A toalha está torta!
Melão! Corta!
Olha o tacho que ferve por fora! Baixa o lume! Agora!

Abre-se a porta, é ele, que alegria!
Nos olhos um sorriso…

- Mau; Há passarinho novo, ou perdeste o juízo?

Prato! Garfo! Faca!
Direita! Copo! Esquerda! Guardanapo!
Desculpa, esqueci-me do pão…
Levanta a mesa, põe roupa a lavar. Dá banho ao menino. 
Põe-o a dormir. Vai lavar a louça. 

Continua a dança. Desfaz-se-lhe a trança.
No nascer dos sonhos, não há lugar para o encher da pança.

O homem ressona dentro do sofá.

Vassoura! Lixo! Pá! A máquina ronca. Acabou de lavar.

— Não podes fazer menos barulho? Não pode um homem descansar!

Agora passar a cozinha com esfregona. Sempre se suja, quando se faz sopa…

Que bom cheiro a alfazema…
Na quinta onde a avó morava, havia alfazema… que bem cheirava…

Se pudesse, voltava lá, apanhava uns raminhos, fazia uns saquinhos…

Punha na gaveta… e alecrim?
Que bom para fazer chá…