segunda-feira, 11 de setembro de 2023



 



Do livro "História de Uma Viagem ou Duas, ou Talvez Não"


... Parecia que queriam trazer-me algum recado, mas o sonho era sempre interrompido antes de conseguir recebê-lo. Depois, numa outra noite, um sonho ainda mais estranho trouxe-me algo bem real.

Encontrava-me numa piscina coberta, enorme, nadando de costas como é meu hábito fazer. Devia ser madrugada pela luz diáfana que entrava pela cobertura de vidro. Dei comigo à borda da piscina de cabeça baixa, andando à volta curvada a procurar na obscuridade os meus chinelos havaianos. Não os encontrei. No entanto, tinha a certeza de os ter deixado junto àquela escada... Junto ao chão o vapor formava uma cortina de nevoeiro baixo. Fui percorrendo o espaço devagar com cuidado para não escorregar, olhos no chão, mas onde estão o diabo dos chinelos? Não percebo como, mas devo ter dado toda uma volta à direita em redor até que embati num corpo vertical à minha frente, quase logo após a escada por onde havia saído antes de dar toda a volta à piscina.

Levantei os olhos endireitando o corpo até perceber que tinha chocado com um índio norte-americano de uns setenta anos, com mais de 1,80 m de altura, de compleição forte e peito largo
. Trazia na cabeça um adorno do lado direito com duas penas brancas.

A primeira palavra que surgiu na minha mente foi. Pai? Uma alegria grande percorria os meus sentidos. Era como se reencontrasse o meu 
pai ou alguém muito querido. Mas não. Não era o meu pai. Era uma figura de índio enorme para o meu pouco mais de metro e meio, que se levantava imponente diante de mim. Olhei-o de frente com uma vontade imperiosa de o abraçar. Na posição em que me encontrava, dada a proximidade frontal, apenas lhe vislumbrava o tronco e a cabeça. Um tórax magnífico de um espécime masculino, um alto pescoço onde se apoiava uma cabeça orgulhosa com duas penas brancas entrançadas junto à têmpora direita. Quando fiz menção de o abraçar, tocou-me com um pequeno, mas firme empurrão no ombro esquerdo e pronunciou as seguintes palavras:

– Perdeste um sapato, mas ainda te restam dois pés!...

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