segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

E VEM UMA FOLHA

 E VEM UMA FOLHA


E vem uma folha,

Rodopiando, dourada e castanha

 

Ao mesmo tempo, faz-me pensar outono, decadência, 

o que precede a velhice, 

as artrites, as artroses e as atrozes dores nas costas, 

nas cervicais, nos pés, nos tornozelos e noutras coisas mais. 


O medo da solidão...


Ah o medo da solidão!


Das noites frias, sozinhas, e caladas. 

Das noites caladas em que as palavras não ressoam nas paredes nuas, 

Das minhas mãos que já não têm as tuas, 

Das bocas engelhadas, desdentadas.


Das mulheres esventradas que entram paredes dentro como facas afiadas. Dos sonhos perdidos, dos pesadelos, dos gritos e dos grelos. 

Crescendo nos vasos de terra estéril com desvelos 

                                                                         de velhas a arrancar cabelos! 

O medo da falta do teu corpo sobre o meu,

A arrancar gemidos e gritos e pedidos. 

As asas de um corvo sobre a chaminé. 

E os fantasmas que não arredam pé. 

E os gritos! Todos os gritos mudos que não dei. 

E todas as palavras que calei. 

Por não ter quem ouvisse, tudo!


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